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Meu perfil BRASIL, Nordeste, JOAO PESSOA, MANGABEIRA, Mulher |
Suporta-se com paciência a cólica do próximo.
Machado de Assis
ponto de vista
líria porto
uma partícula
um cisco
não teria importância
e nada mudaria
se não tivesse caído
no meu olho
Obs. Clique nas tarjas pretas e assine a Carta ao Presidente
Maria José Limeira
Uma palavra a mais, um brado, um grito: eu poderia ouvir-te, ao menos, se a opção fosse silêncio.
Agora, na distância (e tão longe!) não consigo dormir, ouvindo gritos pendurados nas paredes do meu quarto.
Era uma noite chuvosa quando partiste, porta a fora, e levaste meu coração.
É por isso que vagueio na escuridão, sem achar o caminho da volta.
Eu queria te ouvir dizer “não me abandones”, ao invés do “deixa-me ir” que me pediste então.
Não é somente no retrato, à minha mesa, que zombas da minha solidão.
Teu escárnio inda flutua na taça de vinho, na minha multidão, no meu deserto e vazio, no meu frio...
Se é verdade que eu não pude te reter, é verdade também que minha voz – neste disco vinil antigo, arranhado e tosco dizendo “Não te vás” – há-de alcançar-te, um dia, pela estrada de poeira e cascalho em direção às estrelas onde te escondeste.
Se nem mesmo assim eu puder te tocar de novo, ouvirás minha canção espraiada na cidade: a música dolorida que todo expatriado canta – uivo de lobo em noite de lua cheia – que o cruzeiro-do-sul asila e solfeja no escuro interior do escritório da saudade.
Ah desespero! Apagada chama!
Há uma bala de prata cravejada na agulha do revólver escondido na gaveta, para uma pessoa triste como eu, que odeia e ama...
(Do livro “ Crônicas do amanhecer”)
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.
ADEUS
Enquanto não te perco
Te saudo
Mulher de poesia ardente
E nunca esqueça
mais irreversível que o adeus é o presente
(Marcelo Bandeira)
.
Não é coisa de gênio,
mas de doido.
(Jornal A Gazeta)
Imagine uma coreografia no escuro.
Imagine agora um espetáculo inteiro
que se passe em plena escuridão.
(Jornal O Globo)
Lúmini – Companhia de Dança
O COLIBRI E A SEMPRE-VIVA
Rosangela_Aliberti
Era uma vez um colibri que tinha um péssimo hábito... não sei se poderíamos chamar de ´p é s s i m o ´ (minhas crianças), quando as pessoas ignoram o valor da palavra bom senso, por vaidade ou auto-confiança diminuta. Só sei contar que o nosso beija-flor como todos tem conhecimento vem de uma família de aves que como manda o figurino sabe muito bem como beijar todas as flores... beijava as que podia e não podia... para se tornar saudável, e no final do dia se dirigia para um determinada sempre-viva para contar as peripécias que havia feito:
- Hoje bati O ´record´!!! Um campo de girassóis, dezenas de donas violetas, as dálias, mais algumas madames orquídeas, boninas primaveris, terminei o dia em um enorme roseiral...
Trazia sempre no bico, o pequenino doce boêmio, uma lista imensurável, desenrolava a tal listagem com satisfação, parecendo criança no ínicio do mês de dezembro quando ainda acredita na existência do Papai Noel.
Todos os santos dias a sempre-viva com ar de confessionário, ouvia pacientemente uma a uma de suas mil e uma histórias...
Certo dia o colibri encontrou a sempre-viva beirando a morte, observou a amiga com olhar de espanto e a beijou... em troca, com um fiapo de voz a sempre-viva lhe disse:
- Infelizmente nosso tempo passou... era para você me beijar... em VIDA!!! Talvez assim sobreviveria por mais algum tempo, você não o fez, bem sei, que irei me tornar num belo arranjo especialmente colocado no centro da mesa nos dias de Páscoa, porém não passarei de uma terna miragem para você, está na hora de você procurar outra flor... será que você encontrará outra ´igualzinha´ a mim?! Lembre-se de uma frase que um jardineiro uma vez disse para mim, de Maria José Limeira: "O estado de adeus é irreversível".
Dito e feito dona sempre-viva suspirou... dando a última piscada... e, se foi.
O colibri olhou para a flor naturalmente ressequida, interrogando o azul do céu:
- O que andei fazendo com as sempre-vivas...!?!
São Paulo, 26.VI.05
www.rosangelaliberti.recantodasletras.com.br
Podemos nos livrar
de uma neurose,
mas não podemos nos curar
de nós mesmos.
(Jean-Paul Sartre)
ERA UMA VEZ E NÃO ERA UMA VEZ
Maria José Limeira
Tudo que acontece na terra tem raízes no sub-solo.
Mesmo na seca mais intensa, sempre haverá uma flor vermelha para ser colhida.
Existe um opositor cruel e assassino dentro de cada um de nós. Preso na coleira.
Toda encruzilhada se transforma em beco sem saída.
Tem gente que gosta de perseguir a luz alheia.
Dicas para lidar com alguém atacado pelo orgulho ferido: se for maior do que você, fuja; se for mais fraco, comece a pensar o que fazer; se ele estiver doente, deixe-o na paz de Deus; se tiver espinhos, recue e ande na direção oposta; se ele estiver cercado de garras pontiagudas, passe ao largo...
Dupla imperfeita: doce ingenuidade e escuridão covarde.
Mulher que se casa com homem destrutivo pensando em curá-lo está apenas brincando de casinha.
Não tenho medo de treva. Enxergo no escuro.
Se eu não escapar do que me oprime, serei sempre escrava.
Não existe silêncio na tortura.
Quando descobri a armadilha, já estava presa nela.
As coisas não são o que parecem.
Toda história de Trancoso começa assim: Era uma vez e não era uma vez...
Animais que vivem na escuridão convivem com assombrações.
Devemos deixar morrer o que deve morrer.
Ser boazinha não vai fazer minha vida florescer.
A recompensa de ser boazinha é ser mais maltratada.
Para ser aceita por meus inimigos, eu seria obrigada a fazer três coisas: primeira, ter, pelo menos, dois cursos de doutorado; segunda, ficar pendurada no Monte Everest de cabeça pra baixo; terceira, voar sozinha de ultraleve, sem saber guiá-lo.
Se eu ficar parada servindo de saco de pancada, não crescerei nunca.
Não há coisas mais lindas neste mundo que pôr-do-sol, Bolero de Ravel, e dia amanhecendo.
Na cidade que construí, as casas dançam.
Os homens têm medo do poder da mulher.
Cultivar jardim é uma prática de meditação.
Quando consigo ouvir minha voz interior, saio das trevas.
Uma lágrima escorre nos olhos de quem sonha.
Amar é viver uma série de mortes e renascimentos.
Estou cansada de pedir às pessoas o que elas não têm para me dar.
Procuro um lugar onde possa me abrigar e viver em paz.
Não preciso pedir licença a ninguém para sonhar.
Quando corpo morre, alma sobe ao céu. Sonha!
Quando desisto, perco o sentido de mim mesma.
Sentimento do exílio é mais antigo do que se pensa.
Não tenho talento. Não sou importante. Não posso fazer nada. Não sei como fazer, nem quando. Não tenho tempo. – São desculpas que inventamos para justificar nossa omissão...
Não entendo Poeta que empresta seu nome para a prática de atos de vilania.
“A mão que afaga é a mesma que apedreja”... É por esta – e por outras coisas – que Augusto dos Anjos é o Poeta do Meu Coração...
(Do livro “Crônicas do amanhecer”).
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.
O QUE ACONTECEU & O QUE NÃO HAVERÁ
Maria José Limeira
Fui uma criança torturada. Não me deixarei mais torturar. Por ninguém.
Andei de bonde. Trotei em cavalo. Dirigi carro. Fui passageira de avião. Não viajarei em ônibus espacial.
Morei em mansão. O casarão da minha infância tinha quase vinte cômodos e um quintal enorme. Mudei-me para casa pobre. Algumas vezes, não tive lar, quando me abrigava debaixo da ponte. Não residirei em plataforma sideral.
Andei com muitos homens. Amei apenas um na vida. Não me deixarei mais amar.
Tive filhos. Senti dor de parto várias vezes. Não dá mais para me re-nascer.
Perdi consciência. Sei o que quer dizer pré-coma. Vi a morte de frente. Não haverá mais uma próxima vez.
Caí. Levantei-me. Tornei a cair. Talvez não haja mais tempo para nova reconstrução.
Eu disse Não, quando deveria dizer Sim. O positivo transformou-se em negação. Eu disse Sim, quando a resposta certa seria Não. Não haverá mais opção.
Quando fui prisioneira, voei. Meu céu era uma grande prisão. Liberdade foi somente sonho impossível. Não existe mais amplidão.
Meus super-heróis foram Che Guevara, Fidel Castro e Tiradentes. No futuro, terei apenas um pássaro morto, no túmulo da minha mão.
Fui dona-de-casa, empregada domestica, secretária de diretor de grande empresa, talvez doce jornalista, chefe de redação. Comecei de baixo, servi cafezinho. Fui executiva, diretora, peão. Não há mais futuro para mim.
Nem bem saí da infância, já era menina-moça, depois adolescente. Em seguida, adulta.
Quis mais do que me coube. Até aprender que o mundo era pequeno demais para mim.
O por-vir estava sempre correndo à minha frente, numa maratona em que eu sabia que seria perdedora. Perder foi meu cansaço e minha maldição. Não vai demorar muito, e outros me perderão.
Um texto bonito tem virgula, ponto e vírgula, dois pontos, reticências, exclamações, interrogações. Quando tem ponto final, é porque a vida perdeu o sentido.
O estado de adeus é irreversível.
(Do livro “Crônicas do amanhecer”).
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.
Você sabe como é o nome do Juiz
que censurou o livro “ Na toca dos leões”,
de Fernando Morais, colocando uma mordaça
neste escritor, para não ter que ouvir reclamações?
Veja aqui:
www.glx.com.br/literaturaclandestina
O ADEUS DE QUEM FICA
Maria José Limeira
Dizem que quem parte
vai embora.
Quem fica, chora.
Não é verdade.
Quem fica se despede
com a alma que sai
de porta a fora...
DESPEDIDA
Eugenio de Andrade
Junho chegara ao fim, a magoada
luz dos jacarandás, que me pousava
nos ombros, era agora o que tinha
para repartir contigo,
e um coração desmantelado
que só aos gatos servirá de abrigo.
VELHOS, MULHERES E CRIANÇAS, PARA TRÁS!
Maria, a Plagiadora
Sou Poetisa Moderna.
Plagiei o terceiriz.
Mas, se o barco aderna,
o destino é quem me diz.
Sai da frente, minha gente,
que eu vou me salvar primeiro.
Velho, mulher e criança
que fiquem por derradeiro!
EU AINDA MORRO DISSO!
Maria, a Plagiadora
Esse negócio de massa
querer se posicionar,
é melhor fazer a cassa,
o mal na raiz tirar.
Plagio o general.
Copio o lambe-botas.
E quem me der o quinal
vai ficar sem suas rotas!
É FÁCIL TER DUAS CARAS!
Maria, a Plagiadora
Na frente do Rei, sou doce.
Por trás, me transformo em cobra.
Se plágio bonito fosse,
faria mais de uma obra.
Quem não sabe escrever,
copia o que vier.
O meu nome é você
E você não sei quem é...
QUEM NÃO VAI POR MIM CHEGA AO FIM
Maria, a Plagiadora
Quem não concorda comigo
vai pra rua da amargura.
Corre o mais sério perigo
com água até a cintura.
A ordem aqui é expulsar
o plágio melhor que o meu.
Quem não quiser aceitar
se afoga no Mar Egeu.
Calo-me
Piso mas tudo o que percebo é o calo de mim mesmo.
(Edison Veiga Júnior)
...........
www.cronopolitano.blogspot.com
VENTO & CURVA
Maria José Limeira
Onde vento faz a curva
houve grande explosão.
Minha vista ficou turva.
Em seguida, escuridão.
Na curva do vento, luz.
No turvo das águas, lodo.
Na panela tem cuscuz.
Do pedaço quero o todo.
Quando amo, faz clarão.
Quando não amo, vazio.
No ódio, tem solidão.
Na raiva, curto pavio...
CÓDIGO ZERO
Maria José Limeira
Eras tão humanamente
impossível
que, para te alcançar,
fui obrigada
a multiplicar-te,
zero à esquerda...
AVISO: POETRIX, NUNCA MAIS!
Maria José Limeira
Aviso aos meus amigos que retirem dos seus sites todos os meus textos referentes ao Movimento Poetrix.
Estou recebendo insistentes apelos, via on-line e por telefone, para que deixe de escrever Poetrix, e suspenda a publicação do meu livro “Poetrix Imorais”, alegando que não é bom investimento.
Foi suspensa, também, a distribuição do meu livro de Poetrix “Amar Amar Amar”, recém-lançado. Quem recebeu, recebeu. Quem não recebeu, não recebe mais. Estão suspensas todas as autorizações dadas anteriormente para divulgação dos meus Poetrix via on-line, livro ou através da imprensa falada e escrita.
Não autorizo ninguém mais a vincular meu nome ao Movimento Poetrix, do qual me desliguei, definitivamente.
Aos meus amigos pessoais, estou explicando, por carta, telefone e Internet as razões que me levaram ao afastamento desse Movimento, e dando nomes aos bois.
Meus textos de Poetrix, milhares deles, estão impressos, e agora são relíquias, ficando, doravante, apagados da minha biografia literária. Estão bem guardados no cofre, que só será aberto após a minha morte.
(Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB).
Fonte: www.usinadeletras.com.br - 05.03.2002
Manifesto em defesa do Plágio
Bem, amigos. Depois de ler tim-tim-por-tim tudo que se disse até agora sobre o Plágio e suas Derivações, tomei uma decisão. Decidi apoiar, descaradamente, o Plágio. Aderi ao MIP – Movimento Internacional de Plagiadores. E estou lançando um Manifesto neste sentido, assinado por "Maria, a Plagiadora" (eu mesma).
Estes meus textos, que assino com o codinome citado, foi inspirado nos meus amigos poetas de João Pessoa, com quem divido o palco nos eventos culturais e saraus literários, quando morremos de dar risadas com meus textos imorais. Qualquer semelhança com pessoas vivas (ou mortas) terá sido mera coincidência. Como diz o leão da Metro. Saludos. E aguardo críticas. Maria José Limeira.
ORGULHO DE SER PLAGIADORA
(Maria, a Plagiadora)
Orgulho-me de ser plagiadora.
Se eu fosse escrever versos
da minha lavra,
não teria palavra.
Ninguém prestaria atenção
em mim.
E minha brilhante
vocação de poeta
não atingiria
todos os universos.
Seria meu fim.
Meu verso chinfrim
não serve nem pra mim.
Tenho que roubá-los
de alguéns, vendendo-os
por dois vinténs.
Camões,
Pantaleões,
Perjúrios!
Oh flores do Lacio,
catapultas e trelas!
Musas de navios
naufragados
dos quatro costados
e dos sete mares!
Correi!
Vinde assistir
ao espetáculo
do meu tentáculo
subtraindo letras
dos verdadeiros vates.
Plagiemos caras,
bocas
& bundas!
Fifós de candeeiro
sem manga de vidro!
Bem-vindo oh lixo internáutico!
Plagiadores do mundo inteiro,
uni-vos!
(Do livro "Folhetins imorais")
MALU, A CADELINHA QUE VIROU POETA
Maria José Limeira
Estava um jovem casal em lua-de-mel, quando encontrou, no meio da rua, uma cadelinha triste e rabugenta, num canto de parede, na calçada.
Penalizados, levaram a pobre para casa, onde, bem tratada, voltou a brilhar, tornando-se o centro das atrações.
Um ano após, era Malu quem mandava no ambiente, com suas graças, seu dengo e sua meiguice.
Porém, ocorreu que a jovem moça, um dia, chegou-se ao bom esposo, e contou-lhe a novidade: estava grávida.
Houve festa, nesse dia.
Malu ficava num canto, escutando as conversas, sem entender por que suas gracinhas não faziam mais sucesso, e ninguém queria saber de cão dentro de casa.
Era enxotada para o quintal e para a área de serviço, onde dormia sozinha. Não sem reclamar.
Veio a data fatal, quando viu adentrar na sala a dona da casa com um bebezinho nos braços, cheia de felicidade.
A coisa piorou. Ninguém queria mais saber de Malu hora nenhuma. E até a ração de comida diminuiu. Às vezes, faltava.
A cadela que era dócil e obediente, jurou vingança.
Ao primeiro descuido, avançou no bebêzinho que dormia no meio da cama.
Malu agora era um caso de polícia.
Foi levada de carro para longe e deixada no mesmo canto de calçada onde fora encontrada.
Ali, abandonada, Malu arquitetou outro plano de vingança: ser Poeta.
De longe, ouço-lhe os grunhidos...
(Do livro “Contos cruéis”).
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.
FOLHETINS TRISTES
Maria José Limeira / Carlos Assis
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ORDEM E CONTRA-ORDEM
Maria José Limeira
Na ordem do Universo,
a palavra em primeiro lugar.
Em seguida, vem o homem.
A mulher não tem onde se sentar.
A direita do Deus-Pai
está sempre ocupada.
ORDEM E DESORDEM
(Carlos Assis)
No Caos verdadeiro
A luz vem primeiro
Em seguida vem a mulher
Ver a bagunça
Ela tem lugar por herança
No colo do Criador
EXCESSO DE ORDEM & POUCA OBEDIÊNCIA
Maria José Limeira
Na ordem natural
das coisas,
o que está adiante
não fica atrás.
Rei pressupõe vassalos.
Cada escravo tem seu preço.
Valores da vida humana
são banais...
FRUTO DO HOMEM
(Carlos Assis)
A natureza escolhe o forte
Sem amor nem sorte
A pancada fere
Deixa a carne obediente
E voz calada
PREOCUPAÇÃO
Maria José Limeira
Eu só queria saber
por que as pessoas
me usam
como bode expiatório.
Deve ser por causa
dessa minha cara
de virgem...
DESPREOCUPAÇÃO
(Carlos Assis)
Quando a pessoa não sabe, mente
E a chuva parece não saber
Mas a terra espera a semente
Antes do fruto nascer
RE-ENCARNAÇÃO
Maria José Limeira
O que nasce frutifica.
O que morre pode voltar.
Mas caroço de manga
não pode virar semente
de maracujá...
DENTRO DO CAIXÃO
(Carlos Assis)
Preparo a volta
Olhando uma vitrine
Escolho a cor
Enquanto o verme infame
Desce pela boca
LINHA OCUPADA
Maria José Limeira
Para quem
eu tentaria telefonar
se estivesse morrendo
de overdose?
LINHA CORTADA
(Carlos Assis)
O numero de Deus busquei
Na lista não encontrei
Para o CVV tentei ligar
Mas como sinal não havia
Palavrão falei
ARREPENDIMENTO DE ÚLTIMA HORA
Maria José Limeira
O que alguém deve fazer,
entre o chão e o ar,
depois que se joga
do décimo terceiro andar?
ABRINDO AS ASAS
(Carlos Assis)
Se flutua não é carne
Se afunda não é pluma
Faço uma oração leve
O chão se aproxima
DISCAGEM DIRETA À DISTÂNCIA
Maria José Limeira
Acontecem coisas
na madrugada.
Uma das mais irritantes
é que a Telemar resolve
fazer manutenção,
na rede telefônica,
justamente no momento
em que aquela pessoa
decide, finalmente,
dizer que me ama...
DDD
(Carlos Assis)
Mexo na papelada
Tento ficar sem sono
Esperando a madrugada
Para fazer um interurbano
Mas nunca sei o que falar
E para quem ligar
DISCAGEM DIRETA INTERNACIONAL
Maria José Limeira
Tentei me casar
com o noivo japonês.
Mas o fuso horário
não permitiu.
Enquanto lá era dia,
eu aqui dormia.
Desse jeito,
era impossível saber
se daríamos certo na cama...
VIA INTERNET
(Carlos Assis)
Reúno a força
Que nem sei de onde vem
Faço do olhar
Um punhal feroz
Vontade de atravessar seu peito
Rasgar sua carne
Ver o sangue nas mãos
E lhe dar um beijo
NEW YORK
Maria José Limeira
Lá do alto
do décimo-terceiro andar,
olhei para baixo.
Vi minha solidão passando
feliz da vida,
na Quinta Avenida.
FREGUESIA DO Ó
(Carlos Assis)
De manhã, a neblina
Cobre as antenas das casas,
As ruas sinuosas
E os eucaliptos do colégio
Nas sombras
Parecem gigantes
Esvoaçantes
Esperando o sol
NADA MAIS IMPORTA
Maria José Limeira
Quando a gente está só,
o que menos interessa
é saber
que depois da morte
todo mundo vira pó...
A ESCURIDÃO É PARA SEMPRE
(Carlos Assis)
Da esquina para a outra ponta
Minuto a minuto
Beijo a beijo
Me sinto seu
Duro como um tijolo
RIO DE JANEIRO
Maria José Limeira
Naquela segunda-feira
de Carnaval,
minha dor desfilava
na avenida,
dançando e cantando,
fantasiada de mestre-sala
e porta-bandeira.
Como se nada tivesse acontecido...
NA PORTA DO BANHEIRO
(Carlos Assis)
Com a toalha enrolada
Ela me olhava despreocupada
Mexia nos cabelos molhados
E eu como um palhaço
Meio sem graça
Imóvel, sem ar
Com ela queria dançar
O seu corpo apertar
NÚPCIAS
Maria José Limeira
Na noite de núpcias,
é muito difícil entender
o que fazer primeiro:
A noiva deve cantar?
Noivo tem que ficar nu?
Não seria melhor
que ambos se deitassem na cama,
cada um para o seu lado,
e dormissem sossegados?
FOGO DE PAIXÃO
(Carlos Assis)
Sendo homem
Nada devo falar
Apenas pegar
A carne e amar
CONSTATAÇÃO
Maria José Limeira
Descobri
qual a coisa mais certa
deste mundo:
-Eu não vou mais ser feliz.
DISPOSIÇÃO
(Carlos Assis)
Toda manhã
Espero algo de bom
Arranjar dinheiro
Encontrar você
Esta é a minha felicidade
IN-FELICIDADE
Maria José Limeira
Se ser feliz fosse fácil,
não teríamos que enfrentar,
no dia a dia,
o Serasa,
o SPC,
as contas
de água,
luz
e telefone...
DESEJOS MENTIROSOS
(Carlos Assis)
Sem dinheiro
Sem sorte no jogo
Sem amor
Sou poeta
Tenho o coração
Duro
VELHAS CARTAS DE AMOR
Maria José Limeira
Quem é poeta não nega.
Quem é louco se atrapalha.
Dentro da guerra, refrega.
Em velho baú, tralha.
TE AMO...
E. Antonio Torres Glez
(Tradução: Maria José Limeira)
Olha mulher, que te amo desde a lua
até o mar, do caminho ao caminhar,
da sombra aos teus luares,
amante entre os amantes,
amo teus seios
de sal.
Teus sabores a pecado amo sem arrepender-me
e só posso dizer-te que não me assusta o inferno,
se em vida ardi por teu corpo
que mais pode me acontecer...
Amo teu corpo desnudo
ardente e aprisionado
meu futuro e teu passado entre minhas mãos afloram
pacientes quando laboram na aurora de teu corpo mulher,
assalta teu porto, minha fragata... hora após hora.
E sem saber a razão,
minhas carícias se perguntam
quando os corpos se juntam algo se deve explicar?
E não tenho a resposta, mulher, amante nua,
se isto desfaz a dúvida:
te amo só por amar...
TE AMO...
Mira mujer, que te amo desde la luna
hasta el mar, del camino al caminar
de la sombra a tus lunares,
amante entre los amantes, amo
tus senos
de sal.
Tus sabores a pecado amo sin arrepentirme
y sólo puedo decirte que no me arredra el infierno,
si en vida ardí por tu cuerpo
qué más me puede pasar...
Amo tu cuerpo desnudo
ardiente y aprisionado
mi futuro y tu pasado entre mis manos afloran
pacientes cuando laboran en la aurora de tu cuerpo
mujer, asalta tu puerto, mi fragata... hora tras hora.
Y sin saber la razón, mis caricias se preguntan
cuando los cuerpos se juntan ¿ algo se debe explicar?
y no tengo la respuesta, mujer, amante desnuda
si esto despeja la duda:
te amo sólo por amar.
E. Antonio Torres Glez.
CANTO VERDE
Luiz Alberto Machado
Convém lembrar, companheiro, a vida
Para os olhos de todas as manhãs
Não permitindo ao fedor das sentenças
Vender o dia às trevas.
Convém lembrar, companheiro, a terra
Onde pisam os pés de todas as cores, raças e crenças;
O rio de todas as canoas, de todos os peixes,
De todas as cachoeiras que assobiam prá gente
Um outro sentido de vida;
O sol, manifestação real da própria existência.
Convém lembrar, companheiro,
Do sopro de todos os ventos,
Das matas de todas as flores,
Do quintal de todas as infâncias,
De todas as várzeas, todos os campos,
Todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas;
Das águas de todos os mares,
Todos os brejos, lagos e lagoas.
Convém lembrar, acima de tudo,
O direito de viver e deixar viver.
© Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. In: Primeira Reunião.
Recife: Bagaço, 1992.
http://www.luizalbertomachado.com.br
LENÇÓIS
Maria José Limeira
As marcas gravadas
nos lençóis
cheiros,
manchas,
caracóis...
São restos
de nós dois
que ficamos
atrasados
nos ontens,
nos hojes
e nos depois...
RECEITA DE AMOR CASEIRO
Maria José Limeira
Para realizar o amor,
há que abrir as pernas,
sacudir fora as peias,
rasgar bandeiras e calcinhas,
fechar os olhos,
fazer figa,
correr atrás
... e esperar pelo melhor
NA HORA DE FICAR
Maria José Limeira
Preparei vestido de gala.
Acendi velas azuis.
A mesa posta.
Vesti calcinha vermelha.
Perfumei-me em corpo
e alma.
Um cenário de amor
estava pronto.
O telefone tocou
(oh dor!)
e uma voz me disse:
-Tudo acabado.
Inteiramente nua,
no sofá da sala,
voltei à novela mexicana.
Sem fala!
À ABORDAGEM
Tomar-te,
morder teus lábios sangrentos,
saborear
seios erectos e firmes de prazer,
navegar
em incursões nos domínios profundos
do sentir mais sensual...
Fazendo brotar
sensações
as mais belas do Universo,
tão puras como um verso
ou suave corpo de mulher...
Sou, pois,
o pirata
que viola, sequestra ou mata,
espadachim
com mosquete, punhal, amor sem fim...
E a mulher,
sorriso terno,
só sabe rir p'ra mim
d'amor consentido e sentido
onde a violência é verdade
e retórica...
E a alma sensível,
pletórica d'amor, fantasia, ilusão,
viveu mais num só dia
que em séculos ou anos
de penitência e contrição!
joaquim evónio
(do Baú)
Seja bem-vindo ao meu site - Varanda das Estrelícias
www.joaquimevonio.com
FOLHETINS LIRIAIS
(E.Antonio Torres Glez / Maria José Limeira)
...........
LIRA
(E. Antonio Torres Glez)
Tu corazón paloma
vuela a la sombra de mi juramento
y siento que se asoma
tu vuelo polvoriento
al precipicio donde muere el viento.
MIRA-ME
Maria José Limeira
Quando coração voa,
é sinal de boa chuva.
Quando a gente chora,
chove lá fora,
onde vento encurva.
-Olha-me, amor.
Molha-me.
Diz-me por que
não tens pena
de mim!...
AINDA TE AMO
Maria José Limeira
Eu hoje fui desenterrar arquivos e encontrei as cartas que você escrevia dizendo o quanto me queria. Estavam todas juntas, num cofre velho na garagem, amarradas com um laço de fita vermelha.
Cartas da minha vergonha.
Vinham do passado e do esquecimento, a me dizerem o quanto sou infeliz hoje.
Eu devia tê-las abominado antes, como hoje. Para não repetir nossa história.
Lá estavam suas letrinhas bonitas, plantadas em envelopes amarelados, com os selos do Plano Cruzado, a cola gasta se despregando, as cores verde-amarelo do Brasil, meio apagadas. País de ontem, que hoje não é mais.
Cartas da mentira, que apelidávamos de sonho.
Quando o laço de fita se desfez, o passado espalhou-se no chão, as letras virando pó em que nosso amor tão lindo se transformou.
Cartas da minha covardia.
Na primeira que reli, uma frase repetida se destacou, mais denúncia e acusação do que sentimento: “Te amo... Te amo... Te amo...”
Cartas da minha rendição.
Peguei fósforos, uma garrafa de álcool.
No meio do quintal, as cartas se consumiram em labaredas.
Entre as chamas, seu rosto aparecia sorrindo, zombando das últimas palavras que eu lhe disse antes, e repito agora:
-Não faz isso comigo. Ainda te amo...
(Do livro "Crônicas do amanhecer").
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.